10 de setembro de 2014

TEATRO DE BONECOS:


Das marionetes ao teatro de sombras
Cada tipo de boneco tem suas características específicas e exige sua linguagem dramática especial

As marionetes são movimentadas por cordões ou fios que vão dos membros para uma cruzeta de controle na mão do manipulador fonte: deviantart
teatro de bonecos é uma das expressões artísticas mais antigas de que se tem notícias. Conta-se sua origem desde a mais remota antiguidade. Estudos apontam que, na Pré-História, os homens se divertiam com suas sombras, movimentando-se nas paredes das cavernas. Inclusive o teatro de dedos, em que as mães entretinham seus filhos movendo as mãos e descobrindo diversas sombras com silhuetas interessantes.
Egípcios, gregos e romanos, todos encenavam espetáculos com bonecos articulados. Alguns com conotação puramente artística, outros com conotações religiosas, principalmente na Idade Média. Contudo, mais tarde, estes bonecos eram utilizados para fazerem críticas às autoridades religiosas. Por isso, os intérpretes foram duramente perseguidos.
 “Mímicateatro de sombras, fantoches, marionetes, teatro com os dedos e teatro de recortes são atividades artísticas que se aproximam do teatro e que as crianças apreciam muito”, afirma a professora Maria Cortes, do curso Teatro na Educação Infantil, elaborado pelo CPT – Centro de Produções Técnicas.
 Os bonecos manipulados por fios – marionetes – surgiram logo após a Primeira Guerra e, em pouco tempo, esta novidade se espalhou pelo mundo, principalmente, nas escolas. Foi no século XVI que os bonecos começaram a ser utilizados no Brasil. No Nordeste, estes bonecos tiveram melhor aceitação, onde até hoje constituem tradição, principalmente, os mamulengos de Pernamb
Há uma grande variedade de bonecos. Cada tipo tem suas características específicas e exige sua linguagem dramática especial. Certos tipos só se desenvolvem sob determinadas condições culturais e geográficas. Os tipos mais importantes são assim classificados em:

Técnicas de Manipulação
Diversas técnicas e mecanismos de manipulação foram desenvolvidos ao longo da história do Teatro de Bonecos e, atualmente, uma série de outros métodos tem sido incorporados na construção e manipulação, além de técnicas mistas e experimentais. Suas especificidades envolvem tanto questões técnicas e práticas de funcionabilidade de mecanismos quanto concepções estéticas e dramatúrgicas do Teatro de Bonecos.
Veja abaixo algumas técnicas básicas e tradicionais de manipulação:

Boneco de Luva [Fantoche]
Boneco que o manipulador calça na mão, como os mamulengos. Normalmente, possui corpo de tecido onde o indicador manipula a cabeça e dedos polegar e médio manipulam braços.
Cabeça e mãos podem ser esculpidas ou modeladas em diversos tipos de materiais, no mamulengo é mais comum o uso de madeira e papel machê.
A principal característica da manipulação de bonecos de luva é a agilidade dos movimentos, apesar das limitações de movimentos dos braços do boneco.
Outras variações de manipulação de luva são aquelas em que a mão do manipulador articula a boca do boneco, além dos dedoches e a técnica de luva cruzada.
 São bonecos que possuem corpo de tecido, vazio, que o manipulador veste na mão. Este encaixa os dedos na cabeça e nos braços do boneco para movimentá-los. A figura é vista só da cintura para cima e, geralmente, não tem pernas. A cabeça pode ser feita de madeira, papier-maché, ou borracha, as mãos são de madeira ou de feltro. O modo de operação mais comum é usar o dedo indicador para a cabeça e o polegar e o dedo máximo para os braços. Para apresentá-los, é interessante que o manipulador esconda seu corpo, deixando à mostra apenas o boneco. Existem estruturas ideais para a encenação destes bonecos, que se assemelha a uma pequena casa com tamanho suficiente para comportar duas ou três pessoas no seu interior.

Marionete ou Boneco de Fio
 Ao contrário dos anteriores, estes bonecos são controlados por cima. Normalmente, são movimentados por cordões ou fios que vão dos membros para uma cruzeta de controle na mão do manipulador. O movimento é feito por meio da inclinação ou oscilação da cruzeta de controle, mas os fios são puxados um a um, quando se deseja um determinado movimento. Uma marionete simples pode chegar a ter nove fios: um em cada perna, um em cada mão, um em cada ombro, um em cada orelha (para mexer a cabeça) e um na base da coluna para fazer o boneco se inclinar. Existem bonecos, encontrados na Europa, capazes de imitar, praticamente, todos os movimentos humanos ou de animais.
Boneco de fio ou marionete , do termo francês “marionete”, tipo de boneco manipulado por fios ou cabos, conectados a uma estrutura de madeira [cruz]. A manipulação é feita por movimentos e mecanismos da cruz ou manipulando diretamente os fios.
Uma característica da marionete é a possibilidade de coordenar peso [altura], eixos e pernas do boneco em apenas uma mão que manipula a cruz, deixando livre a outra mão para manipular outros fios e mecanismos. A manipulação de bonecos de fio é uma técnica delicada que requer prática e apurado conhecimento do boneco, seus eixos, mecanismos e possibilidades de movimentos.
Uma marionete simples pode chegar a ter nove fios: um em cada perna, um em cada mão, um em cada ombro, um em cada orelha (eixo da cabeça) e um na base da coluna, para inclinação do tronco do boneco. Movimentos mais detalhados podem exigir o dobro ou o triplo desse número. As marionetes são capazes de representar praticamente todos os movimentos humanos ou de animais, além de diversas outras possibilidades de articulações específicas a cada boneco.

Boneco de Vara
Mecanismo de manipulação por varas ou hastes, pode ser um objeto acoplado às varas ou bonecos projetados com mecanismos de boca e olhos. No caso de bonecos de figura humana, normalmente, possui uma vara como eixo central e outras duas para os braços.
Na manipulação, pode se obter tanto movimentos bruscos quanto delicados, uma dificuldade pode estar relacionada a sustentar o peso do boneco para que mantenha os eixos, conciliando com a manipulação das varas. Em bonecos mais complexos e pesados pode ser necessário mais de um manipulador para operar todos os mecanismos.
Uma variação do boneco de vara é o tringle, que se caracteriza por ser um boneco com uma vara fixa, normalmente na cabeça e manipulado por cima do boneco. O boneco de tringle possibilita movimentos extremamente rápidos, bruscos e pausados.
 São bonecos manipulados por baixo, mas de tamanho grande, sustentadas por uma vara que atravessa todo o corpo, até a cabeça. Outras varas mais finas podem ser usadas para movimentar as mãos e, se necessário, as pernas. Em geral, o boneco de vara é adequado a peças de ritmo lento e solene, mas são muitas as suas potencialidades e grande a sua variedade. Porém é muito exigente quanto ao número de manipulares, exigindo sempre uma pessoa por boneco, e às vezes duas ou três para uma única figura.

 Dedoches
 O dedoche é um boneco muito semelhante ao fantoche, com a diferença que é no tamanho dos dedos. Podem ser feito com os mesmos materiais que utilizamos nos fantoches: feltro, tecido ou outro material alternativo. A criatividade é o mais importante em recursos como estes. Outra possibilidade é fazer dos dedos os próprios personagens, ou seja, desenhar nos dedos: olhos, boca, nariz e encenar as mais divertidas histórias.
As histórias feitas com mamulengos são quase sempre improvisadas, vão tomando forma na mão do mestre durante o espetáculo fonte: deviantart

Mamulengos
 Esses bonecos são encontrados em Pernambuco. As histórias feitas com mamulengos são quase sempre improvisadas, vão tomando forma na mão do mestre durante o espetáculo. As apresentações acontecem sempre com muita dança e muita música ao vivo. Um espetáculo pode contar com a ajuda de um contramestre nas cenas com muitos bonecos. Como as apresentações são encenadas na rua, os bonecos e cenários chamados de barraca, torda, empanada ou tenda são dobráveis e fáceis de transportar. A cabeça do Mamulengo é entalhada no mulungu, uma madeira leve e resistente, e o corpo é feito com tecidos estampados e de cores fortes. Na mala portátil do mestre: boi, cobra, um herói (Benedito), sua namorada, um capitão ou coronel, um padre e um diabo, personagens típicos desse tipo de encenação.
Todos estes bonecos, quando utilizados nas escolas, orientados pelo professor, tornam-se valiosos instrumentos, no que se refere à linguagem oral e escrita, pois, assim que um boneco está pronto, a criança sente o desejo de animá-lo e ao tentar manipulá-lo, estimulada pela novidade, junta a palavra ao movimento.

Boneco de Manipulação Direta [Bunraku]
Inspirado no Bunraku, uma técnica tradicional de Teatro Japonês, o boneco de manipulação direta, originalmente, é manipulado à vista da plateia e sincronicamente por três pessoas, a manipulação se dá pelo contato direto com o boneco.
Um manipulador controla e direciona a cabeça e seus mecanismos enquanto sustenta o peso do boneco pelo quadril, um segundo manipulador manipula os braços e o terceiro os pés. A coordenação entre esses três artistas exige um longo e rigoroso treinamento de manipulação.

Boneco de Balcão
O boneco de balcão é uma variação da manipulação direta, porém, os manipuladores não tocam diretamente no boneco. É manipulado em uma mesa, bancada ou balcão e, normalmente, possui um mecanismo central em suas costas ou cabeça, o que possibilita a coordenação de peso e eixo em apenas uma mão. Mãos e braços do boneco podem ter mecanismos que são articulados pelo cotovelo.
Uma das grandes vantagens do boneco de balcão é a possibilidade de mecanismos da cabeça e do pescoço serem manipulados no interior do boneco, além da manipulação por apenas um ou dois manipuladores.

Boneco de Sombra [Silhueta]
 É um estilo muito próximo às projeções dos homens das cavernas. É uma projeção de sombras em um telão semitransparente. São cortadas silhuetas de figuras de bichos, de plantas, de animais, entre outros, em materiais opacos, papéis de textura mais grossa, como papel cartão, papelão, ou outro material alternativo que exerça a mesma função de firmeza. Elas podem ser operadas por baixo, com varas, como no teatro javanês; com varas que ficam em ângulo reto com a tela, como no teatro chinês e grego; ou por meio de cordões escondidos atrás dos bonecos como nas sombras chinesas. O teatro de sombras não precisa se limitar a figuras planas. Ele pode lançar mão também de figuras tridimensionais, ou mesmo, fazendo figuras com as mãos.
 Para causar o efeito de sombras, é necessário que o espaço escolhido como palco para a encenação seja feito com base em uma fonte de luz colocada atrás, que pode ser uma lâmpada, uma vela, ou até mesmo, a luz do sol. O teatro de sombras é uma arte de grande delicadeza e desenvolve, de maneira significativa, a imaginação da plateia, seja composta de adultos ou crianças. Para dar mais clima às cenas, é interessante colocar um fundo musical e dar movimento aos personagens.
Consiste em manipular figuras em focos de luz projetando suas sombras em uma tela. As figuras de sombras são chamadas de silhuetas ou bonecos de sombra, podem ser silhuetas chapadas ou tridimensionais, articuláveis ou não.
Nos teatros tradicionais da China, Índia, Turquia e Grécia as silhuetas são, comumente, figuras planas, recortadas em couro, algum outro material opaco, ou ainda materiais semi-transpartentes como pele de peixe.
Atualmente, diversos grupos desenvolvem pesquisas em Teatro de Sombras, bonecos podem ser criados em acetato, acrílico, gelatinas, papel, etc. e as fontes de iluminação utilizadas são diversificadas como velas, lamparinas, lanternas, refletores, projetores de vídeo, dentre outros.
A manipulação de silhuetas pode se dar através de varas perpendiculares como no teatro javanês; com varas em ângulo reto com a tela, como nos teatros chinês e grego; ou por meio de cordões escondidos atrás dos bonecos como nas sombras chinesas, além de outras formas alternativas de manipulação.
Bonecos de sombra podem também ser figuras tridimensionais, com silhuetas planas em ângulo a um eixo. Além da criação de sombras com o próprio corpo humano, o sombrista pode utilizar máscaras e outros aparatos em seu próprio corpo para a projeção de formas, volumes e silhuetas.

Teatro Negro
Caracteriza-se com uma técnica de manipulação não aparente, ou seja, os manipuladores não ficam visíveis para o público. Normalmente, consiste em um cenário em câmara escura e fundo negro e os manipuladores com figurinos completamente em preto, produzindo a ilusão de que bonecos e objetos não estão sendo manipulados mas sim possuem movimentos próprios.
Diversas técnicas e mecanismos podem ser usadas em conformidade com o Teatro Negro, principalmente no que se refere às técnicas de trabalho com luz negra, à exemplo do Teatro Negro de Praga.

Kuruma Ningyo
Kuruma Ningyo é um gênero japonês de teatro de bonecos. Diferentemente do Bunraku, um único ator manipula o boneco, trabalhando sentado em uma estrutura em forma de caixa com rodinhas. Esta técnica consiste na união do boneco com um único ator, que manipula a vista do público. Esta caixa em que o ator se desloca é uma espécie de carrinho, denominado Kuruma em japonês, originalmente, possui cerca de 20 x 25 x 15 cm e três rodas. O ator trabalha sentado manipulando braços, tronco e cabeça do boneco e seus próprios pés são encaixados no calcanhar do boneco.